Caso Cauane: 5º dia de julgamento entra na fase de debates com expectativa de sentença neste domingo (8)
08/12/2024
Quinto dia de julgamento, que iniciou na última quarta (4), terá argumentações entre acusação e defesa. Policiais militares enfrentam júri popular por morte de três pessoas durante operação no Acre
Reprodução
O julgamento dos cinco policiais militares acusados de matar Maria Cauane, de 11 anos, Gleiton Silva Borges e Edmilson Fernandes da Silva Sales, em maio de 2018, durante uma operação policial no bairro Preventório, em Rio Branco, entrou em seu quinto dia com expectativa de sentença na noite deste domingo (8). O júri entrou na fase de debates, com argumentação entre acusação e defesa, e iniciou às 8h.
👉 Contexto: Os três foram mortos por agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) há mais de seis anos. Na época, o Bope disse que a menina já estava baleada, versão contestada pela família, que disse que o tiro que atingiu ela partiu de um fuzil da PM, fato também apontado em laudo feito em agosto daquele ano. Familiares e amigos fizeram um ato, um ano depois, em frente ao comando-geral da PM para pedir a prisão dos responsáveis pela morte da menina.
📲 Participe do canal do g1 AC no WhatsApp
Os acusados foram ouvidos nesse sábado (7) na 1ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Rio Branco.
O g1 apurou que os réus foram orientados pela defesa a não responder perguntas do Ministério Público Estadual (MP-AC). Com isso, apenas a defesa, o juiz e os jurados tiveram as perguntas respondidas.
O primeiro a ser ouvido foi o 3º sargento Antônio de Jesus Batista. O depoimento do militar durou a manhã inteira e terminou pouco antes do meio-dia. Na sequência, foi chamado para depor o 3º sargento Alan Melo Martins.
A sequência de depoimentos segue da seguinte forma:
Josemar Barbosa de Farias - major da reserva
Wladimir Soares da Costa - 2º sargento
Raimundo de Souza Costa - 2º sargento
Após o depoimentos dos militares, o juiz vai iniciar a fase de debates, com o representante do MP-AC, promotor Carlos Pescador, começando. Em seguida entra a defesa, depois a réplica do MP-AC e tréplica da defesa.
Os jurados devem se reunir para tomar uma decisão sobre o julgamento após essa fase.
LEIA TAMBÉM:
Após 3 anos, família de menina morta com tiro de fuzil em ação do Bope no AC pede justiça: 'processo não anda'
No Acre, 15 pessoas são ouvidas em audiência de menina de 11 anos morta em ação do Bope
Família diz que tiros que mataram 3 pessoas, entre elas uma criança de 11 anos, foram disparados pela polícia no AC
Justiça decide que policiais do Bope acusados de matar menina com tiro de fuzil não vão a júri: ‘coração sangrando’, desabafa o pai
Julgamento de PMs acusados de matar três pessoas chega ao 3º dia
Júri e depoimento de deputado
O júri popular dos quatro sargentos e um major da PM-AC iniciou na última quarta (4) e já dura quatro dias. O julgamento começou com o depoimento das testemunhas de acusação, sendo ouvidas 18 pessoas entre quarta e quinta (5), dentre essas testemunhas os três sobreviventes baleados na operação.
Já na sexta (6), as testemunhas de defesa, totalizando 13, foram interrogadas sobre a operação da PM no bairro Preventório. O g1 apurou que, neste dia, o deputado federal Coronel Ulysses (União) depôs a favor dos réus. No final de 2019, ele assumiu o comando-geral da PM-AC, onde ficou oito meses no cargo.
Ao g1, o deputado disse que participou por videoconferência e que estava fora da atividade-fim da PM, pois estava exercendo as atividades na Associação dos Oficiais da PM. "Não tenho conhecimento dos fatos dessa ocorrência porque não tive acesso aos autos e somente fiquei sabendo o que foi reportado pela imprensa", resumiu.
Coronel Ulysses Araújo esteve no comando da PM-AC por oito meses, de outubro de 2019 a julho de 2020
Reprodução/Rede Amazônica Acre
Conforme apurado pelo g1, foram intimadas cerca de 47 testemunhas, sendo 18 de defesa e 29 de acusação. Em entrevista à Rede Amazônica Acre, o promotor de Justiça Carlos Pescador lamentou que os acusados tenham optado por não responder as perguntadas da promotoria.
"Eles têm o direito de não fazê-lo, de acordo até com a decisão recente do ministro Gilmar Mendes, decidiram não responder, mas ainda assim, como são muitos questionamentos, estão respondendo às perguntas do juiz e vão responder às perguntas da defesa, a gente acredita que vai demorar bastante a oitiva. Os debates finais, que é o momento em que a promotoria demonstra as provas da sua acusação, os elementos que sustentam a sua acusação e, no fim, pede a condenação de todos", disse.
Maria Cauane foi morta aos 11 anos
Arquivo pessoal
Ainda segundo o promotor, a acusação vai pedir a condenação de todos os acusados. "Todas essas provas de câmeras, de chamadas, de imagem foram questionadas às testemunhas, e a versão apresentada por eles, em todos os momentos, é contra a lógica. Se elas são contra a lógica, a lógica está a favor do Ministério Público, as provas estão a favor do Ministério Público", afirmou.
O advogado Jean Soares, que defende os acusados, disse que a estratégia da defesa segue a mesma: demonstrar que a ação policial foi legítima, que havia motivos para que os policiais agissem naquele momento, mas que o resultado da ação, como a morte da criança, não era esperado pelos policiais.
"A defesa acredita sim na absolvição dos policiais militares em relação a todos os fatos. Isso porque, dentro desses quatro dias de julgamento, ficou bem claro pelas oitivas de testemunhas, tanto da acusação quanto da defesa, que aquela ação policial naquele momento, naquelas circunstâncias, era legítima", argumentou.
Família acompanha julgamento
A família da menina Maria Cauane acompanha o julgamento deste o primeiro dia. José Carlos reforçou que a família espera esse momento há seis anos. Ele disse que os familiares ficam muito emocionados e sentem até raiva ao relembrar o que aconteceu no dia dos crimes.
"No dia do fato que aconteceu, não me liberaram pra me ir registrar o B.O [boletim de ocorrência na delegacia para tirar o corpo da minha filha do IML. Encostaram um fuzil na minha cabeça e na cabeça do meu filho, que é especial. Disseram que não entraram nas casas, mas quando sai do IML e chegamos em casa com o corpo nossa filha estava tudo revirado", lamentou.
Pai de Maria Cauane diz que morte destruiu sonho da menina de ser médica
Reprodução/Rede Amazônica Acre
Acusados respondem por outros crimes
Josemar de Farias, que a época do crime era tenente do Batalhão de Operação Especiais (Bope), foi condenado em junho de 2021 por integrar organização criminosa e a perda da função. Contudo, como a sentença não transitou em julgado, o militar segue no quadro da PM-AC. Em 2022, Farias foi absolvido dos crimes de peculato, corrupção passiva e prevaricação. Atualmente ele está na reserva, foi promovido ao cargo de capitão e depois a major.
Já Alan Martins também estava envolvido no acidente que matou Silvinha em maio de 2019, na Estrada Dias Martins, em Rio Branco. O carro do policial bateu na motocicleta em que estava a mulher e o marido. Os três ficaram feridos durante o acidente.
O casal ia ao supermercado fazer compras para comemorar o aniversário de uma das filhas quando aconteceu o acidente. Em junho de 2022, o juiz Alesson Braz, da 2ª Vara do Tribunal do Júri e Auditoria Militar de Rio Branco, decidiu pela pronúncia dele e o policial vai responder pelos crimes de homicídio e tentativa de homicídio em júri popular. O júri deve ocorrer em abril de 2025.
*Colaborou o repórter Jardel Angelim, da Rede Amazônica Acre.
Três pessoas foram mortas durante operação do Bope em maio de 2018
Arquivo pessoal
Reveja os telejornais do Acre