Crianças viram repórteres por um dia no Hospital de Amor e contam a história da fundadora: 'Salvou minha vida'
08/12/2024
Em tratamento contra o câncer, pacientes participam de oficina de jornalismo e desenvolvem o 'Jornalzinho do HA', que tem a médica Scylla Prata, de 101 anos, como destaque. Jovens em tratamento contra o câncer fazem jornal especial em Barretos, SP
Pacientes em tratamento do câncer da ala infanto-juvenil do Hospital de Amor de Barretos (SP) encontraram na produção de um jornal, uma maneira de tornar o período de internação mais leve e criaram o 'Jornalzinho do HA', feito a partir de entrevistas e matérias escritas exclusivamente por eles, que têm a imaginação como principal ferramenta.
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O projeto oferece às crianças aulas regulares de jornalismo durante o tempo que elas ficam no hospital e, a partir do conteúdo ensinado, elas produzem, entrevistam e escrevem matérias que têm o objetivo de ajudar quem está passando por um tratamento oncológico como elas.
Desta vez, a missão dada aos pequenos jornalistas foi ainda mais especial: eles visitaram uma exposição em homenagem à Scylla Prata, fundadora do Hospital do Amor, e tinham de escrever uma matéria sobre o que viram e sentiram ali.
Maria Eduarda Gomes, de 10 anos, foi só elogios.
"Amei tudo. Eu já conhecia a Scylla, já até tirei foto com ela quando era mais nova. Achei muito legal da parte dela fundar o hospital, ela salvou a minha vida, salvou a de muitas pessoas".
Aos 4 anos, Maria Eduarda chegou na instituição para começar o tratamento contra um tipo de câncer que atinge todos os ossos do corpo. Ela precisou passar por uma cirurgia, para retirada do tumor na cabeça, e por quimioterapia, para tratar o restante dos ossos.
O tumor ainda acabou voltando, mas ela se curou novamente e, agora, escolhe na exposição sobre o que escrever em forma de agradecimento à Scylla.
"Acho que vou escrever sobre o vestido [o vestido de noiva da médica fundadora do HA faz parte da exposição] porque foi a parte que eu mais gostei. Eu gostei também das cartas de amor que o marido fez pra ela, foi muito legal, ele é muito amoroso com ela".
Maria Eduarda Gomes, de dez anos, fala sobre o Hospital de Amor de Barretos
Reprodução/EPTV
Matérias especiais
Em 2022, a Késsia Priscila, de 15 anos, foi diagnosticada com um tipo de tumor raro em crianças e precisou de uma força-tarefa dos médicos do Hospital do Amor para conseguir um tratamento.
Ela lembra que passou por uma cirurgia de emergência na qual perdeu uma parte do estômago, o baço e a cabeça do pâncreas. Escrever sobre a fundadora da instituição, para Késsia, é uma forma de retribuição.
"É uma coisa que salvou a minha vida. Se não tivesse esse hospital, eu não sei o que seria de mim. Só tenho a agradecer mesmo, principalmente, à doutora, que teve essa ideia que praticamente fundou o hospital. Então é muito importante pra mim".
Késsia Priscila, de 15 anos, lembra do tratamento no Hospital do Câncer de Barretos
Reprodução/EPTV
Para além da parte emocional, Késsia conta que as aulas de jornalismo e a produção do jornal a ajudam a escrever melhor.
Jornalista e coordenadora da oficina de jornalismo, Glauce Chiarelli diz que a ideia é uma forma de os pacientes transmitirem o que eles pensam para outras pessoas de uma maneira criativa. O objetivo principal é dar voz para as crianças em um momento tão difícil na vida delas.
"A oficina tem como objetivo mostrar o Hospital de Amor e o dia a dia das crianças pelos olhos das próprias crianças. A ideia é colocar as crianças neste papel de contadores de histórias e mostrar como as histórias delas são importantes e podem ajudar outras crianças que estão em tratamento, que descobrem o câncer agora e desmistificar várias etapas do tratamento".
Scylla Prata
A exposição 'Scylla, centenário de amor' comemora os 101 anos da fundadora do Hospital do Amor. São fotos, objetos pessoais, cartas, entre outros itens escolhidos cuidadosamente para relembrar a vida de Scylla Prata.
Curadora da exposição, a historiadora Karla Armani Medeiros diz que viu na médica uma forma de dividir a história centenária.
"Eu enxerguei uma história centenária e resolvi dividi-la em dez temas entre a infância, o casamento, a fundação do hospital, a medicina quando a doutora resolve se transformar em uma médica e se forma na USP, a medicina clínica, que é quando ela passa a clinicar, a fundação do hospital de câncer, também a vida social e a vida religiosa".
Crianças do Hospital de Amor de Barretos viram repórteres por um dia em exposição sobre a fundadora
Reprodução/EPTV
Para ela, a exposição é uma forma de voltar ao passado e compreender a importância da médica para toda a comunidade.
"Essa exposição é uma entrega para a comunidade no geral, mas faz ainda mais sentido para as pessoas que frequentam o hospital, sejam colaboradores ou mesmo os pacientes. Essas pessoas, quando têm a oportunidade de conhecer a história da fundadora e também a história do próprio hospital, o vínculo com a instituição se torna muito mais sólido".
Crianças do Hospital de Amor de Barretos viram repórteres por um dia em exposição sobre a fundadora
Reprodução/EPTV
*Sob a supervisão de Flávia Santucci.
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